O Pequeno Luci


Quis o destino que ele, de humor afiado como uma navalha casa-se com uma alcoólatra inveterada. Após o nascimento do primeiro filho, a esposa estava disposta a repor os nove meses longe da bebida e impôs ao marido a missão de batizar a criança. Ele não teve dúvidas: Passadas algumas horas, chegou com a certidão de nascimento da criança, com um grande sorriso no rosto, enquanto a mulher se desesperava ao ler “Lúcifer Dos Anjos Junior”. A esposa tentou o matar o marido com garrafas e sapatos, mas, naquele estado, nada pode fazer: só conseguiu perder alguns litros de cerveja, e isso era uma preocupação maior naquela hora.

O jovem Lúcifer não teve uma infância tão diferente das outras crianças: apesar de tímido e distraído, tinha suas molecagens como toda criança, mas, nada comparado com as do seu pai. Aos cinco anos, quando a criança pediu um bichinho de estimação ao pai, ganhou um bode, para a agonia da mãe que via seu filho correr pelos campos montado agarrado nos chifres da criatura. O pequeno Luci, como a mãe chamava, foi uma criança bem feliz, afinal. Enganam-se quem pensa que ele sofreu com piadinhas dos colegas de classe: Não usavam o nome de Lúcifer em vão, principalmente após a primeira reunião de pais. Senhor Lúcio foi como responsável de seu filho e insistiu a todos que o chamassem apenas de Lu. Usava uma longa capa preta, anéis nos dedos compridos, e logo seu filho seria um dos mais respeitados da escola.

Infelizmente, o garoto não teve a mesma sorte durante sua adolescência. Apesar de Lúcifer ser muito adorado pelos jovens da escola, ele tinha certas dificuldades com as garotas. Não que ele fosse tímido, ou coisa parecida: Ele tinha um jeito misterioso, um sorriso enigmático, que conquistava algumas pequenas. Mas, foi difícil arrumar uma mulher disposta a apresentar Lúcifer a sua família. Exceto uma, Morgana, que levou o rapaz a casa e, por um tempo, viveram o fogo da paixão e da luxuria. Até que Morgana se cansou, e mandou Lúcifer para o diabo que o carregue, com perdão do trocadilho.

O jovem Luci se sentiu arrasado. Por anos, procurou novos amores, um novo caminho, mas, a saudade de Morgana tinha abalado a sua fé. Por onde andava, só sentia o puro cheiro de enxofre. Sua única companhia era o pai, que sempre o ajudou a não ter medo, desde pequeno. Senhor Lu acompanhou Junior até seus últimos dias, e no leito de morte, sussurrou as últimas palavras para o filho, que prometeu obedecê-las, sem medo.

Os anos passaram, e ele se formou no seminário. Por razões óbvias, adotou o nome de Padre Junior. A última piada do velho Lúcio foi então, colocar Lúcifer dentro da igreja, pois, apesar de tudo, ele ainda era um Dos Anjos.

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