Saltou.
O corpo já cansado do trabalho dos últimos 15 anos, com o som do ar-condicionado e a vontade diária de dar dois tiros na impressora, compartilhada com todo o escritório. Tinha horror da gravata apertada no pescoço gordo, e dos cabelos cheios de creme da recepcionista. Tudo isso só para manter uma esposa frígida, uma filha adolescente e um gato. Odiava mais ao gato do que a impressora: A impressora ao menos nunca arranhou suas almofadas, e nem entrou no cio.
Era segunda. Saiu para trabalhar em seu carro modelo vinte-anos-atrás e deu de cara com a greve dos funcionários em frente à empresa. Passou pela barreira de revoltados e subiu a escada, num esforço tremendo. Falimos, diziam os chefes. Não entendia como haviam chegado naquela situação: Como ficaria o mercado sem a maior empresa de pregadores de roupa do Brasil?
Voltou para casa arrasado, xingando a maldita nova empresa chinesa, desempregado, fatigado, e tantos outros ados. Entrou na ponta dos pés, pois sabia que Norminha dormia até as dez, e era um horror quando acordava. Pelos barulhos, descobriu que ela não estava dormindo. Maldita Norminha! Pra ele, tinha preguiça de fazer dobradinha, pois tinha nojo, só do cheiro. E pra ele, não tinha nojo...daquilo. Agora estava explicado o porque de contratar um jardineiro para cuidar das duas samambaias do quintal.
Saiu desolado de casa. Buscou compaixão nos braços da filha que chegava em casa. Ela disse oi, e nem sequer tirou os fones de ouvido da orelha. Pediu dinheiro pois queria comprar um presente para o novo namorado, e ao ver a expressão do rosto do pai, tratou de acalmá-lo, dizendo que eles já se conheciam: Era o garoto que havia fechado ele no transito na semana retrasada, com seu carro importado modernoso. Vendo que não conseguiria dinheiro, bufou e entrou pra casa. Seu pai continuava imóvel.
Agora ele estava ali. Suou frio, pensou em recuar, mas, saltou. O corpo no ar caiu de costas, ricocheteou e riu. O povo em volta aplaudiu, e ele tinha certeza que tinha tomado a decisão certa, largando tudo pra trás e virando palhaço de circo. Daquela época, só sobrou a gravata, agora colorida e cheia de bolinhas. Casou-se com a mulher-barbada, e teve três macaquinhos.
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